por Myra Soarys Somente uma laranja. Não saberia se era pra ser sempre assim ou se assim nasceria, mas nasceu… Em uma bela manha foi ge...

Vida e morte: a expectativa de uma laranja

/
4 Comments
por Myra Soarys

Somente uma laranja. Não saberia se era pra ser sempre assim ou se assim nasceria, mas nasceu… Em uma bela manha foi gerada, coisinha pequena que logo deu corpo, vistosa, aroma de laranja… 

Fui pega no pé, era frutinha pequena, me sentia triste por largar a família das minhas raízes, queria cair das mãos que me sequestraram. Mas eu nada podia fazer além de só olhar a separação da minha pequena família erguida a cada galho, ali se dissipando de mim.   


Encontrava-me em um novo lar. Hospedaram-me em um recipiente de náilon, agradável, cheirava a maça, humm… e às vezes havia rebuliços. Eram, mais amigos chegando. Ouvi cochichos. Dona pera, nossa‼, essa conversava. Falava pra não a perturbar, escutava entre umas frutas e outra que ela se tornaria uma saborosa torta, ou quem sabe um suco gelado, já estava na depressão.

E eu sem entender nada, só escutava os azedumes de alguns irmãos de raízes… que alguns teriam um fim logo, e que aqui é passageiro, que a vida vem acompanhada da morte, que somos consumíveis, nossa casca envelhece, nosso interno o mundo consome.

Fiquei pensativa... Escutava a tudo, e não conseguia me escutar internamente. O que seria de mim, pequena laranjinha? Eu seria morte? Ou seria vida dentro de alguém?

Logo… logo saberia…

Dias se passavam e os mais velhos se despendiam e eu era esquecida ali, ou tinha receio do meu fim, e me escondia por entre frutas maiores. Até que de tanto me esconder, fui esquecida por completo, me acabei na velhice. Minha casca enrugou, eu não sentia mais meus aromas juvenis de fruta… sentia-me inútil. Incapacitada, fui jogada as moscas.

Eu sentia novas mãos me erguendo ao seu encontro. Eram pequenas e sujinhas e famintas, eram jovens, era meu avesso nesse aspecto.

Claro eu não tinha braços, mas eu o abracei por dentro o preenchendo. Aqui fora eu apodreci porem percebi que minha falta de utilidade a alguns, se fez utilizável a outros. Quem sabe na vida humana estejam imantados os valores de aparecia, e não sua real capacidade de preenchimento e valor.    


Eu estava envelhecida por fora, mas meus sabores… Esses nunca cessaram e no fim da minha vida no meu caixão estomacal já em descanso eu enxerguei que, devemos nos alimentar de conteúdo e não de aparecias mortais.

O Projeto Filosofia do Cotidiano abre espaço para todos que desejam publicar. conteúdo independente.

As postagens expressam a opinião do autor e não necessariamente a linha de pensamento do Projeto.


You may also like

4 comentários :

  1. perfeita analogia e considerando o "sentimento" dos vegetais o texto fica ainda mais dramático, mas é a realidade. Abraço, belo texto.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. agradecida senhor Arao .eu adoro utilizar coisas simples do meu meio como fonte de inspiração.

      Excluir
  2. Parabens, belo texto bem profundo...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. agradecida senhor carlos espero que aprecie os próximos .

      Excluir

Filosofia do Cotidiano. Tecnologia do Blogger.