por Myra Soarys       “Às vezes criamos novos passos que não fazem parte de nós. Nascemos prontos fisicamente ou não… Às vezes no d...


por Myra Soarys

     “Às vezes criamos novos passos que não fazem parte de nós. Nascemos prontos fisicamente ou não… Às vezes no decorrer da vida ou desde início dela necessitamos ser maiores que nossas dificuldades, ser maiores que gotas de uma nuvem qualquer e tentar ser um oceano, voraz e profundo e transformador. Fazer um novo cronograma de vida, andar e recriar caminhos por novos meios.
    
       É em meio às contrariedades que seu interno se move ou nem para todos se movem. Alguns se mantêm na covardia de ser insuperável e morrem pra si mesmos, calados na sua agonia. Porém outros fazem das dificuldades, um verdadeiro vestuário para se agasalhar, as lavando todos os dias e a secando-a para fazê-la usável como proteção motivacional.
      
     Às vezes para muitos só o corpo físico externo é motivo para existir e o manter vivo, o que é um fracasso pensar assim. Pois o que de alguma forma destrói nossas paredes externas, é um lado a se examinar, e dar significativo motivo a mobília que se encontra dentro da gente, o que nos faz fortes e vencedores.
      
       Porém e quando este corpo físico externo se desestabiliza? O que fazer com o interno mal direcionado? O colocar em prática novamente é fazê-lo movimentar-se é existir para você mesma e para o mundo. Quando o momento exige de si, nos fazemos maiores e mais fortes.
      
       Saímos da velha caixa de preocupação pessoal física e de meios mais usáveis. Perdeu-se o movimento? A falta de pernas em João não o fez descansar para sempre seu corpo nos seus aposentos. Perdeu-se a visão? Enxergue por novas maneiras ultrapassando seus olhos através dos seus outros reais sentidos de viver.
      
       Entregar-se aos NÃOS da dificuldade é fácil, é ser um ser preguiçoso. Um ser preguiçoso de vontades, desejos e sonhos, porém isso não é um propósito, e não está na lista dos motivadores. A superação para quem busca os valores da vida e o seu real sentido nela, não se abala por desencontros de alinhamento. Para quem almoça SUPERAÇÃO todos os dias e não se dedica as dietas de VOCÊ NÃO É CAPAZ… Engordar aqui é preciso, mas é uma engorda motivacional de superação.
      
     Mesmo que seus olhos não enxerguem a sua maneira, mesmo que suas pernas não caminhem ao seu modo, mesmo que, alguma parte sua desfaleça por fora, tentarás ser maior e começará a nascer por dentro e a se usar por dentro se expondo para o mundo de uma nova expectativa só sua.

      
      Não deseje sua deficiência, limitação, presa em suas mãos. Deseje-a livre para fora destes arames que a perfuram.”

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por Heitor G. Volff Pereira               Muitos dizem que as bolas de fogo sinalizam o local onde um tesouro está escondido. Para ...


por Heitor G. Volff Pereira

              Muitos dizem que as bolas de fogo sinalizam o local onde um tesouro está escondido. Para obter tal tesouro, é necessário encontrar uma junta de bois gêmeos e ir até o local para oferecê-los a alma do escravo protetor, para assim, finalmente desfrutar do poder que algumas poucas moedas de ouro e prata podem lhe proporcionar.

              Segundo uma explicação fundamentada no histórico de conflitos da região sul, durante Revolução Farroupilha muitas famílias enterravam moedas de ouro e outros pertences valiosos nas redondezas de suas propriedades temendo ser saqueadas e os recipientes escolhidos, geralmente, eram pequenos baús de madeira ou panelas de barro. Nem sempre a família ou indivíduo dono deste tesouro retornava em virtude de prisão ou morte. Outra explicação, por sua vez um tanto duvidosa e, de certa forma, cruel, afirma que famílias ricas escondiam sua importância em moedas de ouro e em uma ação justificado por suas crenças, matavam um escravo sobre o local onde o tesouro estava enterrado – na premissa de que a alma do escravo iria proteger o tesouro, evitando que este caísse em mãos erradas.

             Além disso, muitas famílias enterravam suas importâncias abaixo da fundação de suas moradias, geralmente feitas de pedra, originando o mito de que muros de taipa em formas estranhas, tais como uma taipa triangular, eram construídos ao redor dos tesouros como uma forma de proteger ou amaldiçoar o tesouro, sendo que, na verdade, estas taipas são apenas ruínas de antigos casarões ou taperas.

             Os escravos deveriam ser torturados como forma de punição ou, muitas vezes, mortos para que, mesmo após a sua morte, continuassem servindo aos interesses da família, protegendo tesouros e a propriedade. Atentar contra a vida de um escravo era comum, sendo este apenas um objeto de trabalho.

         Neste causo, muito conhecido na região sul do país e também no meio-oeste catarinense, é interessante analisar este aspecto: a crueldade de ser humano com ser humano. Seriam umas poucas moedas de ouro ou prata mais valiosas que vida de um escravo? Haja vista o modo como as coisas funcionavam naquele tempo, a resposta é previsível, porém, será mesmo que as pessoas deixaram de matar em nome do dinheiro e poder? O tempo passa e muita coisa muda, inclusive a ganância, que se torna cada vez mais forte nas mentes e vidas de uma sociedade como a atual.

             Obviamente que entre situações surreais e coisas, supostamente de outro mundo, muito pode-se pensar em relação a nós e aqueles que vivem conosco. O medo, a importância do conhecimento e a intelectualidade do indivíduo, bem como a crueldade de uma geração passada.

                Não são apenas causos, contos ou crenças. Isso é cultura e também é, de certa forma, reflexão.

              Espero que você tenha gostado da prosa, bem como o café passado. Creio que está na hora de deixar o fogão a lenha de lado e ir rumo a cama, pois já está tarde e eu gostaria de estar dormindo profundamente caso um lobisomem estivesse por aqui e uivasse, tudo bem?


Boa noite.

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         por Léo Rosa de Andrade          Perfil do presidiário brasileiro: Sexo: 94%, homens; 6%, mulheres. Idade: 30%, 18 a 24 anos; ...

         por Léo Rosa de Andrade

         Perfil do presidiário brasileiro: Sexo: 94%, homens; 6%, mulheres. Idade: 30%, 18 a 24 anos; 25%, 25 a 29; 19%, 30 a 34; 18%, 35 a 45; 7%, 46+; Pele: 45%, pardos; 35%, brancos; 17%, negros; 3%, outros.Família: 48%, solteiros; 38%, casados ou em união estável; 10%, não informado; 4%, divorciado, separado ou viúvo. Origem: 54%; metropolitano; 42%, urbano do interior; 4%, rural. Estudo: 5%, analfabeto; 13%, só alfabetizado; 57%, fundamental; 19%, médio; 1%, superior; 5%, não informado.

      Crimes mais cometidos: roubo, 26,5%; tráfico de entorpecente, 26%; homicídio, latrocínio ou genocídio, 15%; furto, 14%; violação da lei do desarmamento, 6%; estupro ou atentado ao pudor, 4%; outros, 8,5%”(Camila Almeida, Inferno atrás das grades, Superinteressante, mar 15).

Apostamos em prisões. “O País faz pouco caso de outras soluções, talvez mais produtivas e inteligentes. ‘Prendemos muito e errado’, diz Renato Vitto (DPN).A explicação talvez esteja na ‘cultura do encarceramento’, apontada por Ricardo Lewandowski (STF) como um dos ‘problemas mais sérios’ do Judiciário” (André Barrocal comMarcelo Pellegrini, Se cadeia resolvesse, CartaCapital, 25fev15).

Encarcerar “não serviu para nada. A reincidência no Brasil é uma das maiores do mundo.É um modelo falido.O menor índice de reincidências está relacionado a penas alternativas; 5% dos que foram condenados a cumprir esse tipo de sentença voltaram a cometer crimes.‘Não dá para prender todo mundo, por todo tipo de crime’diz o juiz Jayme Garcia (TJSP)” (Almeida, Superinteressante).

Mas prendemos inclusive ilegalmente: “O Brasil tem, hoje, cerca de 600 mil presos, dos quais, 40% são provisórios. Ou seja, 240 mil detentos no país não têm culpa formada, não tiveram ainda a chance de serem apresentados a um juiz. Tudo em detrimento ao princípio constitucional de presunção de inocência” (João Marcos Buch, Audiência de custódia, DC, 03mar15).

À parte a predileção dos juízes por encarcerar pobres, uma torta formação de opinião pública alcança o povo, e daí legisladores atendem demandas populares e magistrados sentenciam capitulados ao maior rigor da lei mais rigorosa. Fernando Michalizen, em estudo sobre a influência da mídia no julgamento de crimes “analisou uma série de leis aprovadas no Congresso e identificou, quase sempre, algum escândalo midiático por trás” (Barrocal, CartaCapital).

O encarceramento massivo tem se mostrado contrassenso. Nada de significativo se investe na ressocialização do preso. As despesas restam em sacrifício inútil. “O sistema é um sumidouro de verbas. Os gastos não dão contada sanha encarceradora. Do jeito que as cadeias brasileiras estão, dali ninguém sai melhor, só pior.‘Presídio é um ambiente criminógeno. Prender deveria ser exceção, não regra’, defende Luís Geraldo Sant’ana Lanfredi, (DMFSC do CNJ” (Barrocal, Carta Capital).


         Viu-se que o percentual dos crimes cometidos contra o patrimônio é alto. Somando-se-o ao de tráfico de entorpecentes, percebe-se que os “modos alternativos de ganhar a vida” se aproximam de 75% do total de ilícitos penais.E deles resultam presos jovens. Penas alternativas, mais do que decisão judicial, deveriam tornar-se política de governo.Seguindo a sanha encarceradora, dilapidamos recursos, investimos em educação para o crime, desperdiçamos juventude.

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           por Heitor G. Volff  Pereira            Entre alguns dos causos que meu avô costumava me contar, os que mais me fascin...



           por Heitor G. Volff  Pereira

           Entre alguns dos causos que meu avô costumava me contar, os que mais me fascinavam eram aqueles acerca de bolas de fogo que cruzavam o céu noturno. Tão rápido quanto surgiam no céu, elas desapareciam.

              Vamos relembrar dos velhos e bons tempos de ensino fundamental, mais precisamente, as aulas de Geografia...
           
            Existem corpos celestes vagando por este vasto espaço e estes, por sua vez, são fragmentos de planetas rochosos que há tempos se encontravam em formação. Estes fragmentos, vez ou outra, acabam topando com a nossa atmosfera e em virtude dos gases existentes na atmosfera e nos próprios fragmentos rochosos, estes entram em combustão ao primeiro toque em nossa atmosfera. Nem sempre estes fragmentos viram cinzas, pois, enquanto estão vagando no espaço, possuem medidas, no mínimo, preocupantes, e podem se dividir em inúmeras partes ao entrarem em contato com os níveis da atmosfera terrestre.

               Da mesma maneira como foi dito anteriormente acerca dos supostos encontros com lobisomens, a falta de conhecimento sobre tal evento colabora para que um mito seja criado. Quando o mito era criado e contado em forma de causo, através da ênfase de quem o contava seja seu criador ou não, logo, se tornava realidade absoluta e indiscutível: se fulano viu e sentiu medo, fulano sabe o que viu e está dizendo a verdade.

            Outro aspecto interessante das bolas de fogo avistadas há tempos nem tão longínquos assim, é a sua relação com locais assombrados ou tesouros preciosos enterrados em algum limite de terreno. Muitas vezes, o local onde a bola de fogo desaparecia, era o local onde o tesouro estava enterrado.


            Porém, essa história é outra. Uma história que revela um passado nada amigável das terras onde o minuano uiva. 

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           por Guilherme Wermann          Deitado em minha cama olho para o teto, procurando encontrar nas sombras dançantes um resquíc...

           por Guilherme Wermann

         Deitado em minha cama olho para o teto, procurando encontrar nas sombras dançantes um resquício de euforia que consiga me levantar. Por baixo das cobertas, que me cobrem até o pescoço, sinto meu corpo enferrujado. Como uma máquina velha que já não funciona. Não sei se lá fora faz frio, mas aqui dentro, o sinto. Como se meu sangue não fosse capaz de aquecer minha carne. Como se meus ossos estivessem expostos ao vento. Vez ou outra não sinto nada, e isso é o mais perto que consigo chegar da paz.                 
            
          Quando a ansiedade não me agonia, a tristeza me abate. Um turbilhão de sentimentos entrelaçam-se em mim, sem que sequer eu consiga diferenciá-los ou compreende-los. Está tudo aqui, ao mesmo tempo que não está. Em um segundo eu vivo e no outro, não mais. Por vezes algumas vozes chamam meu nome por trás das paredes. Elas me convidam a sair. - Como se fosse fácil - penso. Elas continuam lá, dizendo o que já sei. Mas depois de algumas tentativas, se cansam e vão embora. Eu penso em procurá-las, dizer-las o que sinto, pedi-las ajuda. Mas agora já é tarde. Nada mais importa. As sombras voltaram e preciso observá-las

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          por Heitor G. Volff Pereira            “Há quem diga que nas entranhas deste capão há um homem que, a cada lua cheia, se ...


          por Heitor G. Volff Pereira

           “Há quem diga que nas entranhas deste capão há um homem que, a cada lua cheia, se transforma em um monstro que parece cachorro, com orelhas de morcego e olhos que brilham feito brasa [...] Certo dia, no capão, topei com o sinistro [...] Meu cusco, urrador corajoso marcado de dente de porco do mato, quando avistou o demônio começou a chorar. O bicho andava meio agachado, me olhando de "revesgueio" e parecia não ter medo da espingarda. Quando tentei me aproximar, o animalão bufou, olhou pra cima, soltou um temeroso de um uivo e fugiu pra nunca mais aparecer [...]”

Muitos o consideram a mais perigosa das criaturas, aquele que tira o seu sono durante as noites da Quaresma. Lobo durante as noites de lua cheia, retornando aos moldes de moço ao amanhecer. Seu nome deriva do grego, sendo chamado também de licantropo, e seus feitos estão registrados em diversas culturas mundo a fora. Ao menos em terras tupiniquins, dizem as línguas sábias que a sétima criança em uma sequência de filhos do mesmo sexo tornar-se-á um lobisomem, e que este após atingir a maioridade, à meia-noite de sexta-feira vai até uma encruzilhada para se transformar e saciar a sua sede por sangue, voltando àquele mesmo local para deixar a maldição de lado e retornando em uma lua cheia próxima.

Deixando de lado a “metodologia da transformação”, vamos nos concentrar em algumas características deste criptídeo para que uma explicação racional possa ser elaborada...

O lobisomem é descrito como um ser bípede, na maioria das vezes, com traços caninos. Em contrapartida ser um homem qualquer durante o dia, suas atitudes remetem a selvageria de um ser movido por instintos tais como reproduzir, proteger o território e matar para se alimentar. Esta característica peculiar é proveniente do mito moderno do lobisomem, e este é o argumento mais usado para fundamentar a existência, de fato, de um ser híbrido ou, na pior das hipóteses, de um metamorfo que, em suma, é o termo usado para designar um indivíduo que pode se transformar em um animal. Na Criptozoologia é comum deparar-se com estas discussões sobre quadrúpedes que podem ou não, nem que por um curto período de tempo, se sustentarem em duas patas e que podem ter originado o mito do lobisomem. Muitos foram os suspeitos, desde ursos até hienas e o próprio lobo. O ponto crucial desta discussão é que em muitas das ilustrações datadas do período medieval, os lobisomens são descritos sobre a perspectiva de um quadrúpede (não entrando no mérito de ser ou não um lobo) de aspectos físicos notáveis, aparentando ser apenas um animal selvagem se alimentando de sua presa, podendo ser um nobre montado em seu cavalo.

É interessante ressaltar o fato de que há anos atrás não havia todo esse conhecimento sobre fauna e flora existente agora. Nossos avós podem, de fato, naquela época, ter se encontrado com criaturas desconhecidas, mas nada relacionado a homens que se transformam em animais, muito pelo contrário, podendo tal criatura ser um mero graxaim, cachorro-do-mato ou até mesmo um belíssimo exemplar de lobo-guará – dependendo da região em que se consumou o encontro. No caso do mito europeu do lobisomem, aqueles que ilustraram os encontros poderiam apenas ter desenhado, de maneira sensacionalista, aquilo que seria um lobo solitário a procura de uma presa fácil.

Seguindo os caminhos da psiquiatria, muitas histórias sobre homens-cachorro, homens-lobo e coisas do gênero podem facilmente ser explicadas por transtornos como a licantropia - onde o indivíduo age, pensa ser ou ter sido transformado em animal -, porém, com um toque de fantasia. Além disso, há o fator porfiria cutânea tarda, uma doença que pode levar a desfigurações do indivíduo que podem lembrar os lobisomens. Além disso, ainda falando sobre os “causos” contados por nossos avós, muito além da falta do conhecimento científico, há o fator medo.

O medo controla. Quando meus pais e tios eram crianças, por exemplo, meu avô sempre os alertava sobre os mistérios e criaturas da floresta, sobre onde ir e onde não ir, o que fazer e não fazer, caso contrário, um lobisomem iria aparecer e te devorar por completo: uma forma de obter controle sobre aquelas crianças e que estes mantivessem uma postura de submissão aos pais. O medo também proporciona cegueira e pareidolia, por assim dizer, pois muitos foram os homens que encontraram tal criatura enquanto estavam em situações em que se encontravam sozinhos e indefesos.


Bom, depois de tanto falar, seria bom tomar uma xícara de café passado e colocar mais um pau de lenha no fogão... Enquanto pego as coisas para o café, gostaria que você pensasse a respeito. Medo? Desconhecido? Ou seria o inexistente existente?

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Por Tiziana Cocchieri Prólogo: Como o que se julga inteligente pode avaliar a si mesmo? Quem poderia dizer a este, de modo que ou...



Por Tiziana Cocchieri

Prólogo: Como o que se julga inteligente pode avaliar a si mesmo? Quem poderia dizer a este, de modo que ouvisse, que o conhecimento sempre nos falta.

Instrua o homem sábio, e ele será ainda mais sábio; ensine o homem justo, e ele aumentará o seu saber.
Provérbios

            Desconfio de quem costuma chamar outro semelhante pejorativamente de burro. Como avaliar a distância entre o burro e o inteligente se não houver um que saiba mais que os dois e possa ser o juiz? Dizem que toda argumentação quando expressa é para convencer, e se não convence, o que não se deu por convencido passa a ser chamado de teimoso ou burro.

        por Heitor G. Volff Pereira       Capinzal é considerada por muitos uma cidade sem graça localizada na região meio-oeste catari...

        por Heitor G. Volff Pereira

      Capinzal é considerada por muitos uma cidade sem graça localizada na região meio-oeste catarinense. Se não me falha a memória, a cidade possui vinte e tantos mil habitantes e seu espaço territorial é de trezentos e tantos metros quadrados. Não sou bom em memorizar dados e mesmo que fosse o contrário, estes dados não seriam úteis para a construção deste texto...

       Ao contrário da maioria, penso que a graça desta cidade são as pessoas e suas histórias, principalmente os “causos”. Era comum que eu visitasse meus avós todo santo final de semana e não havia tempo ruim que impedisse meu avô de me contar algumas daquelas histórias horripilantes.

       Um dos causos mais conhecidos entre nós, membros da família, é o fatídico dia em que um lobisomem tentou invadir a residência dos meus avós, uns quarentas anos atrás aproximadamente. Meu avô, por conta de sua idade e memória, nem sempre conta da mesma maneira, às vezes acrescentando um detalhe ou esquecendo-se de outro. O advogado, amante da história e escritor capinzalense Vitor Almeida catalogou em um de seus livros inúmeros casos e causos sobre a aparição de assombrações, criaturas da noite, objetos voadores não identificados e histórias inteiramente surreais da nossa região. Ainda falando em causos, é interessante ressaltar que este hábito é algo intrínseco daqueles que moram no sul do mundo, principalmente, no “velho meio-oeste” catarinense. Eu lhe garanto que não há uma pessoa nestes pampas que não saiba contar um bom e velho causo: histórias contadas por pessoas que contaram para outras pessoas e que, depois de tanto tempo, ainda são contadas por amantes do folclore e da cultura regional.

        Até o fim deste texto, tenho dezessete anos de idade. Creio que o grande apreço por coisas ainda não resolvidas e mistérios do céu e da terra é em virtude das minhas raízes, a minha família e suas histórias. Sendo assim, muitas vezes me pergunto se alguém, de fato, mergulhou nessas histórias e investigou a fundo se há ou não veracidade dos fatos.

       Nem tudo é uma grande invenção e é por este motivo que tenho dedicado um pouco do meu tempo aos causos e aos acontecimentos que estes ilustram. Muita coisa foi desmistificada e, em contrapartida, uma pequena parcela daquilo que o meu avô me contava ainda permanece um grande mistério. Porém, aquilo que foi desmistificado poderá ser contado mais uma vez, mas de outra perspectiva.


         Você duvida? Então pegue uma cadeira, sente-se próximo ao fogão e preste atenção no que eu vou te contar.

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por Marcelo Teixeira de Jesus Para São Tomás de Aquino, a existência de Deus não é evidente, contudo, a existência de Deus é demonstrável...

por Marcelo Teixeira de Jesus
Para São Tomás de Aquino, a existência de Deus não é evidente, contudo, a existência de Deus é demonstrável. E essa demonstração se dá a partir de argumentos a posteriori, ou seja, partindo do efeito à causa. Para provar que é demonstrável que Deus existe, Tomas de Aquino faz uso de cinco argumentos para provar isso, esse conjunto de argumentos é chamado de “As cinco vias”. A saber: 1ª via, movente imóvel; 2ª via, causa incausada; 3ª via, contingente e necessário; 4ª via, graus de perfeição; 5ª via, finalidade (argumento teleológico). As três primeiras vias são conhecidas como os argumentos cosmológicos de Tomás de Aquino, esses argumentos podem ser lidos e interpretados separadamente. Para Aquino, a 1ª via, a da mudança (movente imóvel), é a que melhor corrobora com a evidência da existência de Deus. Proponho nesse trabalho uma leitura diferente. Pretendo partir da segunda via, a da causa não-causada, para depois justificar a primeira via, a da mudança, essa inversão só é possível pela independência dos argumentos. Proponho essa mudança para objetar ao cientista que afirma que o universo e as coisas surgiram a partir do big bang.
Dizer que Deus é uma causa não-causada não é afirmar que Deus seja uma causa causada por si, pois isso poderia nos levar a imaginar que a causa é anterior a Deus, e Deus não é uma causa. Quando dizemos que Deus é uma causa não-causada estamos querendo dizer que Deus é um existir na eternidade. Ou seja: Ele sempre existiu, e existirá.
Analisaremos a segunda via segundo o esquema de argumentação de William Lane Craig. A segunda via, de São Tomas de Aquino¹:
1. As coisas têm causa.
Quando olhamos o mundo ao nosso redor podemos perceber a veracidade desse enunciado. Quando vemos uma árvore e perguntamos como ela surgiu, e investigamos a sua causa, descobrimos que alguém a plantou, ou seja, ela não surgiu do nada, houve uma causa para o seu surgimento. Nesse caso uma ação humana.
2. Tudo que tem causa, ou é auto-causado ou é causado por outro.
Não nos parece que as coisas podem se auto-causar, logo, as coisas que têm causa são causadas por outras, ou seja, não há coisas no mundo que sejam auto-causadas. Assim antecipamos a premissa três.
3. Nada pode ser auto-casado:
a. Para ser auto-causado teria de ser anterior a si próprio.
Não parece logicamente possível algo ser anterior a si mesmo. Por exemplo, ninguém em sã consciência diria que a causa de uma árvore é a própria árvore, pois isso seria afirmar que a árvore é anterior à sua própria existência, e isso não parece fazer sentido.
b. Mas isto é autocontraditório e, portanto, impossível.
É contraditório afirmar que a causa da árvore é a própria árvore.
c. Portanto nada é auto-causado.
Nada não pode ser causa de si mesmo.
4. A série das coisas causadas por outras não pode ser infinita.
Quando fazemos uma regressão das causas não podemos fazer uma regressão ao infinito, pois sendo assim não encontraríamos uma primeira causa.
a. Em uma série essencialmente subordinada, a existência de causas subsequentes depende de uma primeira causa.
b. Em uma série infinita, não há primeira causa.
c. Portanto não podem existir também causas subsequentes.
d. Mas isto contradiz (1): as coisas tem causa.
e. Portanto as coisas não são causadas por uma série infinita de coisas essencialmente subordinadas sendo causadas por outras.
E uma série essencialmente subordinada, causas intermediárias não têm eficácia causal própria, ou seja, uma causa depende da outra para ser causa de outra, o que na prática seria o mesmo que dizer que um indivíduo para se tornar pai precisaria efetivamente de seu genitor. Mas isso não nos parece verdadeiro, pois não precisamos da participação de nossos genitores para se tornar pai ou mãe, não é nem ao menos necessário que eles estejam vivos, ou que ao menos se os tenha conhecidos. Não precisamos conhecer nossos genitores para sermos genitores. O que é necessário é que tivemos genitores, pois esses são a causa da nossa existência, e essa série de acontecimentos não é essencial e nem subordinada, na verdade ela é acidental e ordenada. Ela, a série de coisas causadas, é acidental porque poderia ser de outro modo, o meu pai poderia não ter filhos, ele ter filhos é contingente; e essa série acidental é ordenada porque respeita a uma ordenação de fatos ocorridos. A existência do meu pai deve ser anterior à minha, e a minha existência deve ser anterior à existência dos meus filhos e filhas, essa anterioridade dos pais em relação aos filhos é que é necessária. Mas, dizer que essa relação é necessária não é admitir que a relação pai e filho tenham uma dependência necessária para o surgimento de um novo ser, o que é necessário aqui é apenas a anterioridade de um em relação ao outro.
5. Portanto a série de coisas causadas por outras tem de ser finita e terminar em uma primeira causa não-causada de todas as coisas; a esta todos chamam “Deus”.
A crítica do cientista² repousa na conclusão do argumento, pois esse diz que é arbitrário escolher Deus como causa de todas as coisas, por que não parar no big bang, por que escolher Deus?
O cientista não tem o porquê atacar as premissas do argumento. Pois, nenhum cientista afirmaria que as coisas não têm causa. Logo, o cientista não tem motivos para objetar essa premissa. Na segunda premissa ele poderia contestar que algo é auto-causado, mas essa objeção vai à tona, tendo em vista que na premissa três Aquino afirma que nada pode ser auto-causado. Sendo assim ele, o cientista, aceita as premissas dois e três. A premissa quatro que diz: “A série das coisas causadas por outras não pode ser infinita”, é aceita pelo cientista. O cientista quando faz um estudo retroativo, assim como São Tomás de Aquino, acredita que deve haver uma primeira causa das coisas. O que o cientista discorda é que essa primeira causa seja Deus. Para ele, o cientista, a primeira causa é o big bang. Contudo, o que o cientista faz é fazer o mesmo que São Tomás de Aquino, ele faz uma escolha arbitrária, pois ele para no big bang, afirmando que esse fenômeno é a causa do universo. Ao afirmar que o big bang é a primeira causa do universo, ele desconsidera que esse fenômeno é na verdade o primeiro movimento das coisas criadas por Deus. Na verdade se analisarmos com mais profundidade o cientista está afirmando a primeira via de Tomás de Aquino que nos diz: As coisas estão mudando. O Big bang é uma mudança.
O big bang é na verdade o primeiro movimento do universo, a expansão de uma massa concentrada que dá origem ao universo, mas por que acontece esse primeiro movimento? Por que essa massa começa a se expandir? O cientista não tem resposta para isso. Logo, se o cientista diz que o argumento de São Tomás seria ad infinitum se ele não escolhesse arbitrariamente a Deus, ele se esquece de que cabe a ele, cientista, explicar o porquê essa massa começou a se expandir e a formar o universo. O que pode nos pode parecer mais claro, que essa massa concentrada começou a se expandir sem motivo algum, ou que algo, ou alguma coisa a causou? Acredito que ninguém afirmaria que algo começou sem motivo algum. Logo, de ter havido algo que causou a esse primeiro movimento, o big bang, e a esse causador nós chamamos de Deus. A essa causa que nós chamamos de Deus, que é a causa incausada, um ser que é puro existir, um ser ao qual nós denominados atributos, mas cuja essência não se tem acesso, e os atributos que lhe damos não dizem o que ele realmente é. Esses atributos dados por nós servem apenas para que cognitivamente possamos compreender a sua existência.
O que o cientista pretende é criar um espantalho para poder atacar, mas ao criar esse espantalho, ele está criando o seu próprio espantalho, e não se dá conta disso, e não tem como ele resolver o problema que ele mesmo criou para si; para ele resolver a esse problema, ele deve admitir a existência de Deus, mas isso ele não fará. Logo, a tentativa do cientista de tentar provar que Deus não existe fazendo uso da teoria big bang nos remete a primeira via de Tomás de Aquino que diz que as coisas estão mudando; ou seja, o big bang não é a causa do universo, e sim o primeiro movimento Divino.   
Notas:
1 A formalização proposta por Craig está em itálico, o que não está em itálico são comentários do autor.

2 Cientista: sujeito universal que acredita que a teoria do big bang é a causa do surgimento do universo.

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por Myra Soarys “Existia um tempo em que o ser humano convivia, olhava nos olhos um do outro e se conectava fisicamente. Existia um ...


por Myra Soarys

“Existia um tempo em que o ser humano convivia, olhava nos olhos um do outro e se conectava fisicamente. Existia um tempo em que o ser humano convivia com pessoas de carne e não aparelhos de metal, alumínio, etc. Existia um tempo em que o único sinal existente entre humanos eram os sinais de afeto, amor, ódio, rancor, alegria, dentre outras conexões. Hoje um dos sinais de contato existente dentro dos lares é o sinal do wi-fi.

Pode acabar o amor, pode acabar o feijão, a água quente do chuveiro, porém ficar sem aparelhos tecnológicos, não, isso jamais. Isso nos tempos de hoje é considerado um pecado na vida de um nomofóbico, isso ai turma! A tal coisa virou fobia. Enquanto uns se viciam em álcool, cocaína…
           
            A tecnologia tornou-se o novo tabaco tragável a qualquer idade. Desde cedo nossas crianças trocam bonecas de panos, carrinhos de plástico por Tablets e aparelhos de ultima geração. 

É normal sim você ser conectado e ter uma vida social, o que não é normal é o exagero de ficar nas redes enquanto as coisas acontecem ao seu redor, parece brincadeira, mas ao ponto que você dispensa olhar o mundo a sua volta e se conectar as pessoas ao vivo se fechar a um aparelhinho seja ele um celular, computador, ou qualquer aparelho eletrônico de comunicação, em exagero acaba tornando-se uma doença.

O ser humano entrou em uma relação muito seria com esses amiguinhos, talvez um casamento sem divórcio, quem sabe nem desejem separação. Para esses famintos, quanto mais comida neste prato melhor, não é algo que dará indigestão para eles, se alimentam com excesso e inquietude sem preocupação com a balança de convívio futuro.

São famílias completas que trocam contatos por milhões de tecladas no seu aparelhinho digital. O ser humano deseja que procriem Tablets, celulares infinitos, dos seus bolsos. Mas não plantam convívio em seus lares.

Ao ponto que antes se tinha liberdade pessoal, hoje muitos se mantêm preso a essa falsa liberdade. É uma droga que é injetada na veia humana por vontades próprias. E que faz de muitos cegos do convívio físico para somente ter olhos para o mundo que se encontra na palma da sua mão, o mundo touch screen.

Ou aprendemos a nos desligar do mundo andróide e restabelecer a um convívio sadio ou seremos somente um pedaço dessas maquinas tecnológica.”

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por Yuri Lawrence de Oliveira Carvalho O medo é uma característica muito presente no cidadão, em consequência na sociedade.  O medo...


por Yuri Lawrence de Oliveira Carvalho

O medo é uma característica muito presente no cidadão, em consequência na sociedade.  O medo sempre acompanhará ao homem em seu desenvolvimento, da infância à mocidade, da mocidade à vida adulta, da vida adulta até a velhice e logo após o seu encerramento. Em cada fase de sua vida o homem terá medos diferentes.

Cada um de nós tem essa emoção que pode se aflorar, se transformando em fobia, prejudicando e dificultando as situações recorrentes da vida. Uma fobia se desenvolve através de um trauma ocasionado pelo medo. A fobia pode ser limitante ou não, irá depender da frequência de encontro com o objeto que provoca tamanho desconforto.

Segundo o psicólogo Nico Frijda as emoções, como o medo, são processos espontâneos e biológicos fora do nosso controle. Estas emoções são biologicamente herdadas ou inatas e estão presente nos animais, quando essas emoções estão em atividade elas nos preparam o para agir.  Diferente dos animais, o homem tem a capacidade de ocultar tais emoções se comportando diferentemente do que sua emoção expressa

O medo surge por advento da ignorância, a ausência de conhecimento faz com que percamos o controle em contato com o real. Temos receio do escuro porque não temos clareza do que está defronte, temos medo de afogar quando não nadamos, o susto vem seguido de uma surpresa, tenho pânico pela minha falta de controle.

O homem teme objetos, lugares, pessoas, situações, Deuses. O temor a Deus é uma forma eficaz de controlar os impulsos que o homem vem a ter diariamente, juntamente com esse medo, inicia-se um processo de melhorias à humanidade: vem o respeito ao próximo; vem a bondade; vem a gratificação pela vida.

O maior medo que o ser humano possui é o medo de sua morte violenta, com esse medo o homem foge de circunstâncias em que a morte pode surgir como resultado final. A partir do medo do futuro, nasce a prevenção. Quando não se tem uma clareza do que pode acontecer no amanhã você abriga, protege, economiza, estuda aprimorar, cria laços.

 Em certo momento o homem decide que conviver com os demais em harmonia é melhor, viver constantemente em conflito é viver constantemente com medo, o que torna a vida difícil e improvável. Portanto ele começa a interagir com os outros, comercializa, ajuda, defende, ama, respeita, cria vínculos, compartilha. Surgindo assim uma sociedade, onde o medo é a emoção fundadora.

Referências: Nico Frijda – The Laws of Emotion – 2006
                   Thomas Hobbes – Leviatã ou Matéria, Forma e Poder de um Estado Eclesiástico e Civil

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por Léo Rosa de Andrade [1] Conhecemos as e os protagonistas da História recente do Brasil. Estamos informados sobre quem esteve fazend...

por Léo Rosa de Andrade[1]

Conhecemos as e os protagonistas da História recente do Brasil. Estamos informados sobre quem esteve fazendo o que e com quem. Sabemos que mais gente do que o imaginável desavergonhou-se, promiscuiu-se, fez de tudo.

Não obstante o contubérnio de bandidos com bandidos que gozavam as vantagens da mancomunação, muitos purgam os seus, dizendo-os mocinhos e a eles atribuindo honestidade particular no meio da patifaria geral.

É o caso da governante que sofre(u) impeachment. Ora, ela pode ser casta no vício de transferir dinheiro do erário para o próprio cofre, mas não é inocente na defraudação das contas públicas e na corrupção da própria eleição.

O passado temerário mais valente da presidenta é respeitável. Já a história de muitos dos deputados que instauraram o impedimento da mandatária da Nação é tão rasa quanto a sustentação de seus sins na votação.

Que sins de fundamentação mais vagabunda o Brasil teve que ouvir. Pois muito bem, dessa turma do sim, a parte mais significativa foi convivente enquanto quis da governante contra quem se abria processo.

Até os momentos antecedentes à votação diversos parlamentares, desses execrados por petistas, habitavam o Planalto, despachando com Dilma. Foram seus ministros, seus conselheiros; eram havidos por aliados e até amigos.

Essa gente prestava? Se era desonesta, por que estava no governo de quem se toma como da turma do bem? Se honesta, teria deixado de sê-lo por se afastar do poder e votar contra a situação que frequentou?

Doutro modo: O corrupto de hoje era honesto enquanto me servia e era servido por mim? Ou, o honesto que me servia e por mim era servido corrompeu-se por tão só já não mantermos relações com interesses afins?

O percurso público de cada sujeito desses é fartamente sabido. Supostamente, todos têm, para o bem ou para o mal, um padrão de ética. E seguramente esse padrão os acompanha, componham o governo que venham a compor.

A imprestabilidade de um político não será alegada desde quando tenha votado sim em um processo de impeachment, mas a partir do momento em que se deu a inscrever safadezas na própria biografia.

Algum cínico dirá que, no Brasil, é imprescindível compor com o pior conservadorismo e a mais ruim desonestidade, ou não se governa. Não é verdade, e, se fosse, não caberia fazer o discurso de oposição ao não oponível.

Seja: se o governante tem que ser imperativamente retrógrado e corrupto para governar, qual o sentido da campanha de oposição e a empolgação do poder? “Pra que trocar seis por meia dúzia”?

Maquiavel mal lido justificaria o que ocorre: “Os fins justificam os meios”. Mas, não. O lulopetismo não transitou por meios para chegar a algum fim. Os meios eram o fim. O governo se organizou em torno do saque ao erário.

Roubar foi uma disposição de vontade. A racionalidade weberiana da burocracia estatal foi adequada desfalcar. A corrupção foi feita política de Estado e em torno dela compôs-se um modo de governar.

No “modo” tradicional de defraudar o tesouro, roubava-se do governo. No “modo” lulopetista, os governantes roubam do governo. Há uma quadrilha, há um esquema, há o desvio sistemático de verba pública.

Rouba-se para pagar a base aliada, rouba-se para suprir a sanha de enriquecer, rouba-se para financiar corruptamente pleitos eleitorais, objetivando a sustentação perduradoura de um grupo no poder.

Dessa concertação restou o deprimente espetáculo da votação que estarreceu o Brasil: a estética feia das consequências da roubalheira, os despojos do fim de um sistema de poder fundado em alianças espúrias e corrupção.

O mais grave, contudo, era o projeto. O lulopetismo assaltava o patrimônio nacional; cooptava parlamentares; governava à margem da lei. Ávido de poder, esbulhava o Estado Democrático de Direito. Bem, parece, acabou.



[1] Mestre e doutor em Direito pela UFSC, psicólogo (especialista em Administração e em Economia, jornalista). Professor da Unisul – Universidade do Sul de Santa Catarina.

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Por Renan Peruzzolo A IMPORTÂNCIA DA ÉTICA NA SOCIEDADE Uma das características essenciais do ser humano é a sua sociabilidade....


Por Renan Peruzzolo

A IMPORTÂNCIA DA ÉTICA NA SOCIEDADE

Uma das características essenciais do ser humano é a sua sociabilidade. Logo, a pessoa pode somente tratar de ética quando está inserida em uma sociedade. Para que se possa compreender a ética em si, é preciso primeiramente que se entenda por que o seu estudo é de tal importância.

Sem que percebamos as relações interpessoais cotidianas, devido em boa parte, às práticas capitalistas que geram individualismo, fatores, que são essenciais para a construção – ou não - da ética, permeiam o ambiente a todo o momento. O indivíduo não reflete sobre a importância do outro em sua vida e a interferência que esse tem sobre a sua conduta. Se o fizesse, tomaria consciência de que, talvez, não seria quem és. Outro caso em questão é a dificuldade que se tem de tentar entender o outro, ou seja, pensar por um momento conforme a linha de raciocínio alheio. Isso não significa concordar com o outro, mas sim, se permitir às novas ideias e respeitá-las.

A ética é construída a partir da moral de cada grupo social inserido em uma sociedade, com o intuito de aprimorar a sobrevivência e a convivência dos que ali se fazem presente. Assim sendo, ambas são fruto do contexto (período histórico) e dos diálogos existentes – ou que deveriam existir – entre os indivíduos, haja vista que todas as pessoas são diferentes, devido a sermos seres históricos.

Um exemplo concreto disso ocorre a partir do período compreendido como Modernidade, onde se dão muitas mudanças sociais e, consequentemente, na forma de pensar a sociedade. O homem se afasta da ideia religiosa (teocentrismo) e se coloca como centro da discussão existencial/social (antropocentrismo). Houveram inúmeros progressos posteriores a essa época, porém como o homem passou a não ter mais dever de fazer o certo temendo algo divino (sofrimento após a morte), pensou-se por um momento que tudo lhe era possível, não impondo limites em seus experimentos e afins.


ÉTICA, MORAL E CULTURA

Apesar de muitas vezes serem confundidas por estarem fortemente interligadas, ética e moral não são a mesma coisa. Ética vem do grego éthos (comportamento); Moral vem do latim mos-mores (costumes, valores de determinada cultura). Contudo as diferenças não se resumem na etimologia somente. Assim como foi dito anteriormente, a moral é basilar à ética e compreende as normas de conduta, costumes, valores correspondente aos grupos sociais em particular, sendo assim, se fundamenta em preceitos culturais, históricos, discernimento de bom e mau, certo e errado.

A ética é construída, portanto, através do diálogo entre os indivíduos, sendo considerada um conjunto de regras, não necessariamente escritas, que visam o bem viver geral e a harmonia da sociedade, definindo a boa ou má conduta dos indivíduos.

Através da tomada de consciência individual, por meio desses conceitos é possível garantir a cidadania, que compreende a capacidade política da pessoa frente à cidade. No entanto, obviamente, isso só é alcançado quando permite-se que o cidadão tenha clareza e liberdade para o fazê-lo, o qual em uma ditadura se torna inviável.

Fala-se do indivíduo perante a sociedade, dando-se a entender que a prática ética inicia-se já com o indivíduo em fase quase adulta, mas a ética deve estar presente desde a primeira infância, ou melhor, ela deve fazer parte indiscutível da educação, que por sua vez começa na família, a qual tem grande e indispensável parcela de responsabilidade.

Tudo isso faz parte da cultura de uma população humana. Se tratando do Brasil, essa cultura toma outros caminhos, como por exemplo, situações onde a família inexiste. Fator presente e explícito em nossa sociedade nacional é a violência, que parece estar arraigada, presente em todas as etapas da vida do indivíduo, como na família, na escola, no trabalho. Tal provém do preconceito e discriminação contra grupos sociais que possuem uma cultura minoritária ou não, sendo em todos os casos marginalizada e colocada como inferior a outra, de fato, vigente.

Por isso pode-se concluir que a moral de determinado grupo, às vezes, não condiz com uma postura ética, pois dogmatiza seus valores e ideais, ou seja, se torna um fundamentalismo e/ou fanatismo, pré-conceituando os demais indivíduos de outras culturas através de estereótipos. Isso acontece nos casos de racismo, onde há uma atitude etnocêntrica. Somente por meio da autocrítica é possível reverter esse quadro.


PENSAMENTO FILOSÓFICO E A ÉTICA

A ética e a moral fizeram parte dos estudos filosóficos desde os primórdios pré-socráticos (Grécia antiga). A filosofia, por ser etimologicamente conceituada de “Amor ao Saber” (Philo=Amor; Sophia=Sabedoria), interessa-se, de forma óbvia, pela reflexão existencial, social, fenomenológica, conceitual, linguística; logo instiga o indivíduo a pensar sobre o cotidiano e como tais ações corriqueiras, até então, refletem no organismo social.

Muitos acreditam que a filosofia se faz distante, por eruditos e indivíduos rebuscados, contudo o que ocorre é mais simples do que se imagina. Basta, primeiramente, colocar um ponto de interrogação em grande parte dos nossos pensamentos e conduta. Simplificando, o primeiro passo é interrogar-se “Por quê?” da vida ser de tal forma, principalmente nos aspectos éticos e morais. Sendo assim, “não é possível ser ético sem, antes de tudo, ser reflexivo e crítico” (p. 52) Tratando disso, vários filósofos ao longo da história se interessaram em conceituar e/ou definir o que é ética e moral e, por conseguinte, como alcançá-las. Como Sócrates, que afirma não ser possível alcançar a ética como algo a ser repassado, mas sim somente pela virtude da procura interior. Já Immanuel Kant trata de moralidade e afirma que existem dois tipos, denominando-as de imperativo categórico, que seria um pressuposto de ética universal; e imperativo hipotético, ou seja, em determinada situação tem-se certa atitude justificável a um fim, esse modo de pensar o próprio autor condena, pois seria uma atitude a qual não se pode tomar como exemplo aos demais. Sartre, no entanto, irá dizer que o homem é responsável por si e por tudo que pratica, em suas palavras “o homem está condenado a ser livre.”

Assim, é relevante que o indivíduo reflita por que há pessoas morrendo de fome; outras que trabalham doze horas por dia; outras ainda que lucram sob o trabalho dos outros e vivem no luxo sem, ao menos, precisar assinar algum papel, ao invés de tomarem toda essa realidade por ‘normal’, justificando que em boa parte da história foi assim e irá continuar de tal forma.

A GLOBALIZAÇÃO E A ÉTICA

Uma questão preocupante na atualidade para o estudo da ética são as práticas capitalistas. Em outras palavras, o consumismo exacerbado, a detenção dos meios de produção e do lucro gerado pelo processo capitalista e, principalmente, o individualismo, culminam no pensamento de “querer é poder”, que por vezes é irrefletido por àqueles que deveriam se indignar com a sua situação, mas que não o fazem por falta de conhecimento.

O homem se apossa, primeiramente, da natureza, já que dela provém a matéria-prima para os produtos industrializados e, posteriormente, do ser humano que se encontra em situações de extrema necessidade, tomando dessa sua força de trabalho. Ao longo da história o ideal ganancioso dominou aqueles que detêm a maior parte da riqueza da Terra, fazendo com que a desigualdade político-econonômico-social ganhassem maiores proporções.

Com o avanço das novas tecnologias e, subsequentemente, da globalização, o progresso econômico (capitalista) passou por cima, literalmente, das diferenças culturais, homogeneizando o pensamento, os valores e os costumes dos povos, aproximando o mundo ao indivíduo e distanciando o mesmo do ambiente real em que vive.

Por meio das relações de privatização, o cidadão comum é levado a pensar, através da manipulação de massas, que consumir – objetos que, por vezes, ele nem sequer sabe para que serve realmente e/ou que não tem utilidade nenhuma, de fato, para a sua vida – e acumular bens  é a resposta para a autorrealização, acarretando ainda mais o afastamento do pensamento de convívio social ideal, ou seja, pensar no próximo.

Isso tudo faz com que a vida do ser humano, em sua quase totalidade, seja líquida (BAUMAN, Modernidade Líquida), em outras palavras, tudo se torna transitório, descartável, descompromissado. O ideal de crescimento econômico se sobrepõe ao desenvolvimento humano e os fins, de fato, justificam os meios sem maior remorso da destruição que essa situação causa não só ao ser humano, mas ao planeta.

OS CONFLITOS ÉTICOS DA SOCIEDADE ATUAL

Apesar de todos os avanços na esfera do direito, conquistados ao longo da história por meio da reflexão de certo e errado, de próprio ou impróprio, onde o ser humano evolui sua consciência e se permite ao pensar social, muitas questões ainda são consideradas pertinentes por possuírem uma ideia retrógrada, embasada em pressupostos escritos e/ou mitos de milhares de anos atrás. Por outro lado o pensamento utilitarista e a falta de perspectiva também contribuem para a continuidade no impedimento da evolução consciente e coletiva.

O olhar construído a partir da realidade individual fortalece o pensamento de “querer é poder” e produz a intolerância, que por sua vez, acaba acarretando um efeito de violência sobre as minorias e/ou aqueles que não se enquadram ao padrão imposto pela sociedade.

Questões como casamento entre pessoas do mesmo sexo; a eutanásia e a morte assistida; a pena de morte e, até mesmo, a relação do ser humano para com o meio ambiente, são temas, de fato, relevantes na atualidade e que geram grande polêmica por haver perspectivas e interesses divergentes, onde muitas dessas acabam desconsiderando a liberdade, o respeito e a responsabilidade que todos têm frente à construção da harmonia social.

Para isso, há tempo vem sendo construída e, de certa forma, afixada a ideia de Direitos Humanos, para que haja um entendimento consensual e a garantia de direitos a todos, o que por muitas vezes, fica apenas na teoria, visto que o cumprimento desses direitos torna-se distante da realidade daqueles que sobrevivem em condições quase desumanas, à margem da sociedade.

A Declaração Mundial dos Direitos Humanos (1948) teve três grandes fases, as quais podemos denominá-las de Primeira geração, correspondente aos direitos naturais e/ou inalienáveis, como a liberdade e a igualdade; de Segunda geração, que se configuram por direitos políticos e conceituam o indivíduo como cidadão; e os de Terceira geração que dizem respeito aos direitos sociais, os quais, pode-se dizer, estão em desenvolvimento, visto que essa ideia inicia-se a partir do século XX. A união desses três conceitos, a serem efetivados, garante a vida digna e plena, logo, a cidadania.

Mas antes de pensarmos em Diretos Humanos, os quais são, sem dúvida, de indiscutível importância, precisamos combater a cultura da corrupção, ou, em uma linguagem mais corriqueira, o famoso “jeitinho”. Devido a esse, o indivíduo naturaliza práticas que prejudicam e atrasam a construção da ética em uma sociedade, o que muitas vezes pode passar despercebido, visto que “todos fazem, por que eu não posso fazer?” ou “se eu não faço, o outro faz”. Procurar resolver de forma fácil e prática os problemas, em sua grande maioria, não se configura em uma atitude ética.

Dado o exposto, através da reflexão crítica e do diálogo continuado, visando a harmonia e o bem-estar social (integral), que se dá a partir do sentimento de empatia, pode-se concluir, mesmo com todas as dificuldades existentes, que é possível se construir uma sociedade igualitária e, consequentemente, justa, considerando o ponto inicial dessa caminhada a atitude ética que cada um é responsável de exercê-la.



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