Por Myra Soarys       Manoel morreu na calçada fria.       De uma noite de setembro.       Não teve velas na sua morte.     ...

Sociedade Morta

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      Por Myra Soarys

      Manoel morreu na calçada fria.
      De uma noite de setembro.
      Não teve velas na sua morte.
      Somente sentiu a alma corroída
      Pelo vento.

      Maria também morreu.
      Assim… como José, Pedro e o senhor João.
      Alguns sofreram com a fome.  
      E de tanto gritar, esbravejar.
      Por um pedaço de igualdade nesta nação.

      E é assim que vem a surgir.         
      Uma sociedade cicatriz…  
      Esbarrados, marcados,
      Batizados de humanos.
      Na corja do mundo infeliz

      Uma sociedade cicatriz…
      Que se reinventa pra viver.
      Que mastiga o desrespeito todos os dias.
      Sem conseguir dar engolidas no poder.
      No poder de ser feliz.
      E poder dizer pra si mesmo…
      Foi essa vida que sempre quis.
     
      Porém nada assim realmente é.
      Muitos não podem saborear a liberdade da vida
      Com sua própria colher.
      Tem que esperar ser dada na boca.
      E engolir o que vier

      Percebeu? Você… Sim você! Humano sofrido.
      Que nasceu na gaiola feito pássaro.
      …um ser escondido.
      Com todos, nossos, vossos meios.
      Somente vontades maiores de matar o inimigo:
      A indiferença, a fome, a guerra o frio.
      A falta de educação a falta de abrigo.

      Nesse projeto de vida ninguém quer liquidação.
      Não querem preços sugeridos de quanto querem pagar
      Pra tal da liberdade… meu irmão.   
      Envolvidos tanto assim, tão rápido, tão ligeiro, 
      Esse desmantelo. 
      Isso é o movimento de uma sociedade sequelada.
      Uma sociedade espancada pela elite.
      E sempre desrespeitada.

      Está latejando a fome, ela grita! Na barriga murcha de falta de pão.
      Mesmo que imundos, salvam…
      Pedaços de alimento. Largados no chão.
      Por que isso?
      Digo-lhe.
      Falta-lhe um tostão.
      Pra abastecer a si mesmo e, quem sabe, seus sete irmãos.

      Está dolorida, as pernas de Mané, que Caminha pra a tal educação.
      Destino traçado? Sim… 
      O colégio, o templo de aprovação.
      Sem estrutura. Lá pode até encontrar.
      Falta tudo, menos vontade de sonhar.

      Ele só deseja um futuro, futuro de sonhos, que o mundo finge não ver.
      Não sabem que mora nele, a vontade de ser.
      Ele quer ser médico
      Ou só simples carpinteiro.
      Não importa o destino.
      Porque ele não desiste.
      Ele é brasileiro.

       


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Um comentário :

  1. muito bom, uma realidade bem retratada em que cada verso nos passa um chamado à responsabilidade nossa de cada dia.

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