por  Brendon Lussani Ele ama ela. Ela por sua vez o ama também. Seria o suficiente para viverem felizes para sempre e se amarem até que...

Pretinho básico dos funerais familiares

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por Brendon Lussani

Ele ama ela. Ela por sua vez o ama também. Seria o suficiente para viverem felizes para sempre e se amarem até que a morte o separasse e um deles vestisse o pretinho básico dos funerais familiares. Mas às vezes, só o amor não é o suficiente…


Ela gostava de sexo selvagem. Ele sentia dores nas nádegas quando chegava ao orgasmo. Ela dizia que ele era rápido demais. Ele se queixava que ela não gemia, “Parece que estou trepando com uma morta!”. Ela comprava o jornal, ele lia o horóscopo e ambos riam das piadas fúteis e sem graça na contra capa do caderno de variedades.

Ela andava com seu velho skate no parque, ele corria com o gato que receberá dela na Páscoa passada. Ele gostava de chocolate, mas sempre comprava picolé de creme. Ela era viciada em abacaxi, por isso comprava picolé de abacaxi. Enquanto ele mordia o picolé, ela chupava. Ele nunca chupou, ela era viciada, “Maldita sensibilidade nos dentes!”, dizia ela projetando os lábios por cima do picolé de abacate, uma vez que o de abacaxi havia caído não chão e ela já havia comprado o último.

Ela queria ter trigêmeos, ele achava um exagero, e almejava um filho perfeito. Ele comprou um cachorro para ela de Natal. Ela uma coleira nova para o gato dele, que havia lhe presenteado na Páscoa passada.

Enquanto ele cozinhava cookies com gotas de chocolate para ela, receita de família, ela o traía com a sua própria prima na casa do sogro.  Ele sempre olhou para ela como um pedaço de carne pendurada no açougue esperando alguém fantasiado de branco, com uma faca em mãos, lhe tirar um pedaço e entregar a qualquer um que pagaria alguns centavos, multiplicados por mil. Ela olhava para ele como um chester de Natal, com os miúdos presos num saco plástico barato, temperado com um tempero horrível que lhe fazia franzir o nariz ao comer com fios de ovos na ceia de Ação de Graças.

Mas o importante é que ele ama ela. Ela por sua vez o ama também. E isso é o suficiente para que ele passeie com seu gato, de coleira nova, enquanto ela tenta encontrar um equilíbrio enquanto seu cachorro, o Totó, a puxa em cima do velho skate. E isso é o suficiente para que ambos possam consumir seus picolés, ela chupando, ele mordendo. E parece loucura, mas ela não gosta de chocolates, mas como os cookies com gotas do mesmo e ele sabe da relação sexual dela com a prima.

E ele não sente dores nas nádegas quando chega ao orgasmo, e ela simplesmente não gosta de gemer. E se finge de morta por não ter prazer com ele, “Que falta faz uma língua”, pensava ela toda vez que ele a tocava.

Os dois odiavam as piadas fúteis e sem graça do jornal, que fica na contra capa do caderno de variedades. Mas ambos riam, porque achavam que o outro gostava e nunca tiveram coragem de dizer que não achava graça alguma, com medo de magoar o outro.

E no fim do ano, ambos se vestiram com o pretinho básico dos funerais familiares para o enterro da prima linguaruda. E eles foram ao velório familiar. Ele feliz, ela molhada. Ele cantava mentalmente uma música qualquer do Mika, ela recordava de suas brincadeiras com a prima íntima.


E no final do funeral, ele continuou a amar ela. E ela ele. E às vezes, o amor é o suficiente.


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