por Heitor G. Volff Pereira               Muitos dizem que as bolas de fogo sinalizam o local onde um tesouro está escondido. Para ...

CONTOS & CRENÇAS - Fogo no céu e ouro na Terra II

/
0 Comments

por Heitor G. Volff Pereira

              Muitos dizem que as bolas de fogo sinalizam o local onde um tesouro está escondido. Para obter tal tesouro, é necessário encontrar uma junta de bois gêmeos e ir até o local para oferecê-los a alma do escravo protetor, para assim, finalmente desfrutar do poder que algumas poucas moedas de ouro e prata podem lhe proporcionar.

              Segundo uma explicação fundamentada no histórico de conflitos da região sul, durante Revolução Farroupilha muitas famílias enterravam moedas de ouro e outros pertences valiosos nas redondezas de suas propriedades temendo ser saqueadas e os recipientes escolhidos, geralmente, eram pequenos baús de madeira ou panelas de barro. Nem sempre a família ou indivíduo dono deste tesouro retornava em virtude de prisão ou morte. Outra explicação, por sua vez um tanto duvidosa e, de certa forma, cruel, afirma que famílias ricas escondiam sua importância em moedas de ouro e em uma ação justificado por suas crenças, matavam um escravo sobre o local onde o tesouro estava enterrado – na premissa de que a alma do escravo iria proteger o tesouro, evitando que este caísse em mãos erradas.

             Além disso, muitas famílias enterravam suas importâncias abaixo da fundação de suas moradias, geralmente feitas de pedra, originando o mito de que muros de taipa em formas estranhas, tais como uma taipa triangular, eram construídos ao redor dos tesouros como uma forma de proteger ou amaldiçoar o tesouro, sendo que, na verdade, estas taipas são apenas ruínas de antigos casarões ou taperas.

             Os escravos deveriam ser torturados como forma de punição ou, muitas vezes, mortos para que, mesmo após a sua morte, continuassem servindo aos interesses da família, protegendo tesouros e a propriedade. Atentar contra a vida de um escravo era comum, sendo este apenas um objeto de trabalho.

         Neste causo, muito conhecido na região sul do país e também no meio-oeste catarinense, é interessante analisar este aspecto: a crueldade de ser humano com ser humano. Seriam umas poucas moedas de ouro ou prata mais valiosas que vida de um escravo? Haja vista o modo como as coisas funcionavam naquele tempo, a resposta é previsível, porém, será mesmo que as pessoas deixaram de matar em nome do dinheiro e poder? O tempo passa e muita coisa muda, inclusive a ganância, que se torna cada vez mais forte nas mentes e vidas de uma sociedade como a atual.

             Obviamente que entre situações surreais e coisas, supostamente de outro mundo, muito pode-se pensar em relação a nós e aqueles que vivem conosco. O medo, a importância do conhecimento e a intelectualidade do indivíduo, bem como a crueldade de uma geração passada.

                Não são apenas causos, contos ou crenças. Isso é cultura e também é, de certa forma, reflexão.

              Espero que você tenha gostado da prosa, bem como o café passado. Creio que está na hora de deixar o fogão a lenha de lado e ir rumo a cama, pois já está tarde e eu gostaria de estar dormindo profundamente caso um lobisomem estivesse por aqui e uivasse, tudo bem?


Boa noite.

O Projeto Filosofia do Cotidiano abre espaço para todos que desejam publicar. conteúdo independente. As postagens expressam a opinião do autor e não necessariamente a linha de pensamento do Projeto.


You may also like

Nenhum comentário :

Filosofia do Cotidiano. Tecnologia do Blogger.