Quando Marx escreveu o Capital, trazendo a tona o problema da alienação na produção capitalista, a indústria estava em seus primórdios ...

Hoje Marx se decepcionaria

/
0 Comments

Quando Marx escreveu o Capital, trazendo a tona o problema da alienação na produção capitalista, a indústria estava em seus primórdios e as relações e trabalho eram mais diretas entre trabalhadora e patrões. Áreas como gestão de recursos humanos eram desnecessárias e praticamente inexistentes.

Marx criticou um modelo econômico de produção onde o trabalhador não é reconhecia naquilo que estava produzindo. Em curtas palavras, o trabalhador vende seus esforços para produzir um objeto que não lhe pertence. E com a produção em série, o trabalhador passou a produzir apenas uma parte (insignificante) de um produto, ansiando ainda mais o sentido de seu trabalho. Mas, ainda assim, havia um projeto sendo produzido. Havia algo de concreto.

Pergunto-me o que Marx diria hoje... Qual seria sua crítica frente a realidade que nos encontramos. Qual seria seu discurso aos estudantes e trabalhadores da área administrativa? Ou do direito? Aliás, que direito é esse que não defende a justiça, mas apenas a legalidade?

Tenho essa curiosidade. Imagino a decepção de Marx frente a essa sociedade que conseguiu abstrair totalmente a relação do trabalhador com seu fruto de trabalho. Porque, em última análise, trabalhar com relações humanas é trabalhar com algo tão vago e vazio que parece que se trabalha com nada. Esquece-se que seu objeto de trabalho são vidas humanas, e como tais, são únicas.

Mas não são apenas os profissionais da administração e dos recursos humanos que decepcionariam Marx. O que podemos dizer dos profissionais das áreas sociais? Educadores sociais e assistentes sociais que são forçados a reduzirem vidas em números para a manutenção de convênios e verbas. Famílias inteiras reduzidas a um frio e insignificante número em uma planilha de Excel. Toda uma história de vida que é esquece. Onde está o significado do trabalho para o trabalhador nessa relação?
E sobre os profissionais da saúde dispensam-se comentários. Reduzem e dividem o ser humano em fatias. Não existe humanidade em suas ações.

E a sociedade ousa perguntar por que as pessoas estão tão adoecidas? Talvez a resposta seja muito simples. O ser humano carece de sentido humano. Principalmente em seu fazer. Não se reconhecer em seu trabalho, não reconhecer-se naquilo que está produzindo (e eis a questão: como reconhecer-se no que que se produz se nada de concreto e visível é construído?) é doentio. É mais que doentio, é desesperador.

A cura para a enfermidade social passa por uma mudança no modo de produção social uma mudança do quantitativo para o qualitativo. Possa por parar de colocar rótulos, códigos e números. É preciso voltar a tratar cada produção como única, cada pessoa como única. É preciso parar de gerar números apenas...


You may also like

Nenhum comentário :

Filosofia do Cotidiano. Tecnologia do Blogger.